Sinopse

“A Felicidade Não é Deste Mundo” é um curta-metragem de ficção onde a única personagem é Anita, uma mulher jovem com traços de envelhecimento precoce, fruto dos sofrimentos causados pela morte de seu filho e seu marido. Anita, nossa personagem, é a personificação da loucura gerada pela incapacidade de enfrentamento de situações de perdas de entes queridos.  A perda enfocada aqui é a perda de um filho, principalmente, pois esse é um luto incomparável, um rompimento de futuro onde estavam depositados sonhos, desejos e expectativas de inúmeras realizações que estavam ainda por acontecer. O que se gera a partir da perda é, muitas vezes, um nível de frustração e impotência tão absoluta que acaba resultando na insanidade de quem fica para enfrentar esse momento.

Acontecimentos de morte são inexplicáveis e doloridos demais. Para Anita, lembranças mescladas aos sentimentos intensos deixaram marcas que dificilmente o tempo conseguirá apagar e se tornaram, de fato, um fardo muito pesado de se carregar.

A não aceitação da morte significa a resistência absoluta da condição de fragilidade em que o ser humano se encontra diante da perda de um vínculo afetivo. Anita flutua entre a inconsciência gerada por dolorosas lembranças e o desejo incomensurável de reviver momentos.

Foto:Ana T. Quesado

Foto:Ana T. Quesado

Conceito de direção

“A Felicidade Não é Deste Mundo” possui uma narrativa propositadamente e inicialmente confusa para que o espectador possa “viajar” juntamente com Anita por seus desvarios, sem nenhuma didática ou explicação. A estória se desenvolve através lembranças produzidas pela mente de Anita (imagens de situações de vida vivida em outro tempo e ícones representativos para o desenrolar da narrativa), intercaladas por cenas reais (situações que ela encontra no meio de sua corrida) que ocorrem durante sua trajetória até o local escolhido como ponto de restauração, um pseudo-santuário abandonado no meio de uma clareira. As informações sobre a narrativa vão se montando pouco a pouco e paralelamente, tanto em imagens quanto em dramaticidade (reações e falas produzidas pela personagem através do poema da escritora Sonia Bierbard escrito especialmente para o curta-metragem) revelando detalhes de sua vida que introduzem, justificam sua dor e provocam uma intensa cumplicidade espectador-personagem. Filmes como “A árvore da vida” (Terrence Malick), O Quarto do Filho (Nanni Moretti), Inquietos (Gus Vant Sant), “Reencontrando a Felicidade” (John Cameron Mitchel) que abordam questões existenciais e desestruturação familiar e psíquica a partir da perda de entes queridos, filhos principalmente, foram fundamentais para a construção do roteiro e caracterização da personagem. Tais narrativas colocam o luto como uma procura contínua do ato de viver, seja ele na permanência da estagnação da impotência diante de algo maior e sem controle humano, que é a própria morte, ou como um renascimento, uma transformação, uma transcendência em diferentes níveis de confronto.

Nossa personagem tenta, numa corrida desenfreada, retornar a um momento de outrora onde ela julga poder recuperar a felicidade perdida ou interrompida. Para Anita é como se voltando a um determinado lugar e tempo construído apenas no seu imaginário, ela pudesse iniciar tudo de novo e mudar o rumo dos acontecimentos.